Deteção precoce dos casos

  • Os casos suspeitos de cólera podem ser notificados às autoridades sanitárias a partir de várias fontes , incluindo centros ou postos de saúde, hospitais, laboratórios, agentes comunitários de saúde e outras fontes externas à saúde, como professores, líderes religiosos e líderes locais. Há fontes informais, como a imprensa e os rumores, que podem igualmente ser fontes de informação. Todas as fontes devem ser sistematicamente localizadas e investigadas para determinar se a notificação de casos suspeitos ou de surtos é válida.
  • Qualquer que seja a fonte de informação, quando são detetados e notificados casos suspeitos de cólera numa zona anteriormente nunca afetada, isso deve desencadear um alerta de cólera, devendo ser imediatamente efetuada uma investigação no terreno para verificar o alerta e confirmar o surto.
  • A vigilância ativa com base na comunidade pode ser iniciada ou reforçada nas zonas de risco onde se sabe ocorrerem recrudescimentos sazonais e surtos recorrentes, antes da chegada da estação, para detetar os primeiros casos de cólera tão cedo quanto possível.

Definições

Diarreia aquosa aguda

A diarreia aquosa aguda é uma doença caracterizada por três ou mais evacuações de fezes soltas ou aquosas (sem sangue) num espaço de 24 horas.

Caso suspeito de cólera

  • Em zonas em que ainda não tenha sido declarado um surto de cólera, qualquer pessoa com idade igual ou superior a 2 anos que apresente diarreia aquosa aguda e desidratação grave, ou esteja a morrer com diarreia aquosa aguda.
  • Em zonas em que tenha sido declarado um surto de cólera, qualquer pessoa que esteja a morrer com diarreia aquosa aguda.

Nota: as crianças menores de 2 anos podem ser afetadas pela cólera e precisam de ser tratadas imediatamente. Quando é declarado um surto de cólera, as crianças menores de 2 anos, que correspondam à definição de caso de cólera, devem ser incluídas no registo, com notificação à unidade de vigilância, e consideradas na análise epidemiológica.

Alerta de cólera

Um alerta de cólera (suspeita de surto de cólera) define-se pela deteção de, pelo menos, um dos seguintes elementos:

  1. a)    duas ou mais pessoas, com idade igual ou superior a 2 anos, com diarreia aquosa aguda e desidratação grave, ou a morrer com diarreia aquosa aguda, da mesma zona, com um intervalo de 1 semana
  2. morte de uma pessoa, com idade igual ou superior a 5 anos, causada por diarreia aquosa aguda grave; e/ou
  3. caso de diarreia aquosa aguda com resultado positivo para a cólera, obtido através de teste de diagnóstico rápido (TDR), numa zona que não detetou ainda um caso confirmado de cólera (incluindo zonas em risco por extensão de um surto em curso).

As unidades de saúde e os agentes comunitários de saúde devem comunicar todos os alertas de cólera ao nível seguinte. As autoridades sanitárias distritais devem então iniciar uma investigação no terreno, para confirmar o surto de cólera e implementar medidas de controlo (ver Secção 2 – confirmação de um surto).

Para mais definições, ver o l’Apêndice 1 – Definições.

Uso dos testes de diagnóstico rápido da cólera (TDR)

  • Os TDR não substituem a cultura de fezes nem a reação em cadeia da polimerase (PCR) na confirmação da cólera. 
  • Um surto de cólera apenas pode ser confirmado quando as amostras de casos suspeitos testam positivo, por cultura ou PCR, num laboratório de referência.
  • Os TDR destinam-se a ser usados nos níveis periféricos dos cuidados de saúde, apenas para deteção precoce dos surtos—como ferramenta para o alerta inicial—e não para diagnóstico individual.
  • A gestão clínica dos pacientes é orientada pelo seu grau de desidratação, independentemente do resultado do TDR.
  • O uso de TDR na deteção dos surtos limita-se a melhorar a fiabilidade e a pontualidade dos alertas da cólera.
  • Os TDR também permitem a triagem de amostras a serem testadas em laboratório. As amostras que tenham um TDR positivo devem ser priorizadas para teste laboratorial.

Investigação do alerta, riscos, avaliação das necessidades e resposta inicial

  • Enviar uma equipa multidisciplinar ao terreno para investigar todos os alertas de cólera para confirmar ou descartar o surto, avaliar o risco de propagação, identificar ações prioritárias, fazer uma avaliação inicial das necessidades e implementar as primeiras medidas de controlo (ver Apêndice 2 – investigação no terreno e lista de verificação da resposta inicial).
  • É importante destacar rapidamente uma equipa multidisciplinar, de preferência em 24 horas.
  • Idealmente, as equipas devem incluir um especialista clínico com experiência na gestão dos casos de pacientes com cólera, um epidemiologista, um perito em água e saneamento, um perito em prevenção e controlo de infeções, um perito em mobilização, envolvimento comunitário e comunicação de riscos e um técnico de laboratório para a colheita de fezes dos casos suspeitos e para apoio e formação do pessoal do laboratório local.
  • Qualquer que seja a composição da equipa, os seus membros devem conhecer os procedimentos para confirmar ou descartar o surto e os elementos a investigar, devendo adotar uma abordagem multidisciplinar.
  • A equipa deve ser rápida a trabalhar e notificar os resultados, incluindo os riscos e as necessidades avaliadas, aos decisores o mais rapidamente possível, para se dar uma resposta rápida e orientada.
  • As equipas devem ter material suficiente para colher e transportar amostras de fezes, suprimentos para tratar os pacientes presentes no local, garantir as medidas básicas de prevenção e controlo da infeção (PCI) no centro de tratamento e fazer investigação sobre a água, saneamento e higiene (WASH) na comunidade. Devem também ser levados materiais de orientação, protocolo e informação, educação e comunicação (IEC), que deverão ser deixados no terreno.

Avaliação do risco

Avaliar o risco de propagação, magnitude e potencial impacto do surto.

  • A probabilidade de transmissão baseia-se em fatores como o acesso à água potável e saneamento melhorado; comportamento da população (incluindo fontes de água usadas, cloração, defecação a céu aberto, lavagem das mãos); condições geográficas, ambientais e climáticas (estação da cólera esperada, fenómenos meteorológicos esperados, cheias, secas); zonas com elevada densidade populacional (bairros degradados, campos de refugiados ou pessoas internamente deslocadas [PID]) e zonas com grande circulação de pessoas ou entrada de viajantes.
  • O potencial impacto da doença baseia-se em fatores que incluem a preparação para a cólera, o acesso a tratamento (solução de reidratação oral [SRO] e fluidos intravenosos [IV]), capacidade dos agentes de saúde para fazerem a gestão dos casos, material disponível, comportamento de procura de ajuda profissional, estado de malnutrição e imunidade da população, conforme determinado por anterior exposição à cólera ou vacinação anterior contra a cólera.

Avaliação das necessidades

  • Identificar os recursos disponíveis (humanos e materiais) e estimar as necessidades com base na avaliação do risco.
  • Comunicar essas estimativas rapidamente às autoridades locais e nacionais para que os recursos necessários possam ser rapidamente adquiridos e/ou fornecidos pelos governos ou pelos parceiros.
  • Calcular o material necessário com base nas taxas de ataque (TA) esperadas e na população (ver Apêndice 3 – ferramenta de previsão do abastecimento a nível distrital).
    • Nas comunidades rurais com baixa densidade populacional, as TA podem variar (0,1–2%).
    • Nos locais mais povoados (como cidades e campos de pessoas internamente deslocadas e refugiados), as TA tendem a ser mais elevadas (1–5%).

As ações acima mencionadas podem ser tomadas antes da confirmação ou declaração de um surto.

Para mais informação

  1. Interim Guidance Document on Cholera Surveillance. Global Task Force on Cholera Control-Surveillance Working Group. June 2017.Click here
  2. Interim Technical Note. The Use of Cholera Rapid Diagnostic Tests. Global Task Force on Cholera Control-Surveillance Working Group. November 2016. Click here
  3. Technical Guidelines for Integrated Disease Surveillance and Response in the African Region. Second Edition. 2010.Click here
  4. Early detection, assessment and response to acute public health events. World Health Organization. 2014.Click here